Ser estrangeiro num país estrangeiro
As contingências da vida e ou quem sabe, contingências do desejo, nos transfere a experiência única de SER estrangeiro às vezes no nosso próprio país... Aqui, gostaria de abordar o estrangeirismo, desculpe o palavrão, num país estrangeiro. O SER estrangeiro pode ser uma experiência singular e oportuna de nos depararmos com o que existe de mais estrangeiro em nós mesmos. Para alguns pode ser uma experiência feliz e até mesmo um encontro, para outras não passa de pura dor e sofrimento... Em ambos os casos, feliz ou infeliz, a dor se faz presente.
A migração para um país estrangeiro implica em abrir mão, para a maioria, da zona de conforto, comida caseira, afagos e carinhos de familiares, amores de toda sorte, carreiras, profissões e por aí vai... Nesta epopeia de perdas e a posteriori, talvez, ganhos. O imigrante brasileiro se vê completamente desbussolado (sem rumo) e sem poder se comunicar na sua integra, se possível fosse...
A língua da nó, o cérebro se saracoteia e nada de sair o tal do inglês, english ou ingres... restando apenas gestos e pequenos vocábulos. E assim, sobrevive-se as idiossincrasias no país adotivo. Adotivo ou não, isto são outros quinhentos... Fato é que no encontramos tal qual criança no processo de aquisição da linguagem, alguns a beira de um ataque de nervos, tentando pronunciar o nós vai, nós foi, me want, donte liki, please, thank you. Os mais extrovertidos se comunicam com gestos e vocábulos monossilábicos apontando com o dedo “here”, “there”, ora batendendo no peito “me like”, “me go”; ou balançando o dedo para dizer “no”. Enfim, este malabarismo silábico e de gestos, ou a falta dele, pode gerar angustias variadas em se tratando de sobre-viver. Algumas pessoas chegam ao ponto de até mesmo desistir de aprender a língua num simples “vô aprender essa língua não, tô indo embora para o Brasil mesmo!”. Aqueles que insistem e tentam superar as dificuldades da língua e adversidades culturais, assim como os que desistiram, podem vir a manifestar às vezes tristezas profundas, como o famoso “winter blue”, depressão, síndrome do pânico e outras formas de manifestação de sofrimento.
O serviço de psicologia da Casa do Brasil oferece um espaço onde é possível endereçar e elaborar as dores advindas de SER estrangeiro... Importante pontuar que Psicoterapia pode ser uma forma de reconhecer, responsabilizar e transformar o sofrimento em algo mais palatável...
Fazer terapia não é para loucos e fracos, mas para corajosos, é preciso ter coragem de reconhecer o sofrimento e transformá-lo em algo mais positivo e adaptável ao viver cotidiano.
Denise Froede é membro da equipe de psicologia que atende voluntariamente na Casa do Brasil.