O Futuro da Interlocução entre Imigrantes e Governo

Após dois anos da experiência com o CRBE, o Itamaraty determinou que Consulados devessem chamar reuniões para avaliá-lo e para angariar sugestões para o futuro em termos de interlocução entre as comunidades brasileiras no Mundo e o Governo Brasileiro.

Ficou claro, na minha opinião, que a regionalização do CRBE em apenas quatro áreas foi um grande erro. Por ser um grupo de voluntários, sem direito a reembolsos sequer de despesas razoáveis decorridas do trabalho, tornou-se impossível uma representatividade ativa e coerente. Para os Conselheiros, como eu, que não tinham outros interesses, a não ser aqueles que nos propusemos a realizar quando nos candidatamos, que resumia-se em, voluntariamente, trazer demandas das comunidades para as autoridades brasileiras, os dois anos de mandato resultaram em atender menos as atividades diárias, no meu caso, o trabalho na Casa do Brasil em Londres, viajar por uma vasta área geográfica onde as leis diferem das do País de residência, e tudo isso com recursos próprios.

Tudo isso em meio a uma verdadeira guerra de agressões verbais causadas pelo sistema de escolha dos Conselheiros, que não se pode chamar de eleição e que não foi decidida e nem sugerida pelos Conselheiros eleitos.

Está claro, para mim, que o futuro da interlocução entre as comunidades locais e as autoridades brasileiras resta nos Conselhos de Cidadania ou de Cidadãos, este quando criados no formato anterior às decisões unânimes da II Conferência Brasileiros no Mundo, mas válidos e em funcionamento.

Ora, haveria uma redução de cobertura geográfica, pois cada jurisdição consular, pelo menos aquelas que tenham número representativos de Nacionais Brasileiros vivendo nela, seria a responsável pela interlocução com o Governo. Com isso, o não reembolso de despesas estaria praticamente resolvido ou severamente amenizado.

Também, haveria um desgaste muito menor em um novo processo eletivo, pois cada Conselho indicaria um ou dois membros para constituir o novo CRBE.

Por fim, sugiro aos leitores que consultem as atividades dos Conselheiros, que tinham, segundo o Decreto Presidencial e Regimento do CRBE, por obrigação prestar contas ao Governo e à comunidade, o site Brasileiros no Mundo. Ficará claro quem é quem e quem realmente tentou executar o difícil papel de Conselheiro de Representantes de Brasileiros no Exterior.

* Carlos Mellinger foi ex-Conselheiro titular do CRBE para a Europa e preside a Casa do Brasil em Londres desde 2009. Foi o idealizador do projeto e co-fundador da primeira associação assistencial exclusivamente brasileira no Reino Unido.